Exposição Temporária

 

LINHAS DE VENTO

PERCURSOS ARTÍSTICOS NA NATUREZA


17/12/2021 - 17/04/2022

 

ALBERTO CARNEIRO, ANA JOTTA, ANA MENDIETA, FERNANDO JOSÉ PEREIRA, FERNANDO LANHAS, HAMISH FULTON, JAN DIBBETS, LOTHAR BAUMGARTEN, LOURDES CASTRO, LUISA CUNHA, MARIA NORDMAN, NANCY HOLT, RICHARD LONG, ROBERT SMITHSON e RONI HORN

Brochura "Linhas de Vento. Percursos artísticos na natureza"

A presente exposição apresenta um conjunto de obras de artistas portugueses e internacionais que reequacionam o nosso vínculo com a natureza, desenvolvendo as suas práticas artísticas em estreita relação com o meio natural, com a geologia, a antropologia e a ecologia.

 

Concebida propositadamente para o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, a exposição parte de um importante núcleo de obras da Coleção de Serralves que se inserem na tendência artística do final dos anos 1960 conhecida como land art, ou earthworks. Neste período de viragem no paradigma artístico internacional, artistas como os britânicos Richard Long (Bristol, 1946) e Hamish Fulton (Londres, 1946), os americanos Robert Smithson (Passaic, 1938 – 1973, Amarillo), Nancy Holt (Worcester, 1938 – 2014, Nova Iorque) e Ana Mendieta (Havana, 1948 – 1985, Nova Iorque) e o português Alberto Carneiro (São Mamede do Coronado, 1937 – 2017, Porto) procuram no território natural o lugar e a matéria para o desenvolvimento de projetos artísticos intencionalmente deslocados dos espaços tradicionais de criação e exposição. O recurso a materiais naturais não processados, à fotografia, ao desenho e à linguagem torna-se recorrente no trabalho destes artistas que documentam e transportam para o espaço expositivo as suas experiências artísticas.

 

Longe de apresentar exaustivamente as investigações artísticas desenvolvidas neste enquadramento durante as décadas de 1960 e 1970 ou de definir uma genealogia rigorosa daí em diante, Linhas de vento estabelece pontos de contacto entre obras paradigmáticas deste período e trabalhos posteriores de artistas com percursos muito distintos, traçando caminhos de aproximação de índole temática, processual e material. Num momento em que a reconciliação entre humanidade e natureza parece cada vez mais remota, esta exposição apresenta uma perspetiva contemporânea sobre diferentes propostas de compromisso artístico com o meio natural.

 

Esta exposição, com curadoria de Joana Valsassina, integra o Programa de Exposições Itinerantes da Coleção de Serralves que tem por objetivo tornar o acervo da Fundação acessível a públicos diversificados de todas as regiões do país.

 

Organização: Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto.

 

Curadoria: Joana Valsassina

 

Imagens da Abertura da exposição ao público

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EXPOSIÇÕES ANTERIORES

 

PAULA REGO - O GRITO DA IMAGINAÇÃO

9 de julho a 18 de outubro de 2020

 

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 Programa Paralelo

Paula Rego - Brochura

 

PAULA REGO: O GRITO DA IMAGINAÇÃO
Obras da Coleção de Serralves

 

Esta exposição tem como ponto de partida o núcleo de obras de Paula Rego na Coleção de Serralves, realizadas entre 1975 e 2004, e que são representativas de várias fases de produção da pintora.

O percurso artístico de Paula Rego começa a definir-se a partir de 1952, quando parte para Londres e ingressa na Slade School of Fine Art. Neste período, os seus trabalhos são marcados por um estilo de certo pendor naturalista e alguma ingenuidade, denotandose já uma forte consciência social e política e uma relação próxima com a realidade.

A partir do final da década de 1950, influenciada pela descoberta da obra de Jean Dubuffet, a artista cria obras marcadas por um gesto mais enérgico, livre e intuitivo. A explosão criativa inspirada por Dubuffet e pela arte bruta manifesta-se na execução de pinturas a óleo combinadas com o recorte e colagem de imagens desenhadas ou pintadas sobre papel, técnica que permite a exploração de diferenciados efeitos rítmicos e narrativos. São exemplos desta prática as pinturas Corredor (1975) e A grande seca (1976), trabalhos marcados por uma violenta abstração surrealizante, enfatizada pela fragmentação e distorção das formas, e em que a pintura atua como um elo de ligação ou de ocultação dos elementos colados, conferindo ambiguidade às imagens representadas.

 

a grande seca

A grande seca (1976)

 

No início da década de 1980, Paula Rego abandona a colagem e passa a dar primazia ao desenho e à pintura em acrílico e guache, criando coloridas composições vertiginosas, habitadas por figuras humanas, animais e vegetais, ora isoladas, ora em fervilhantes e estranhas interações (Girl with pig and weeping dog, 1984; Homenagem a Dubuffet, 1985, Sem título (1986)). Ao longo desta década intensifica-se também o interesse da pintora pela hibridação de diferentes universos: influenciam-na as narrativas orais, escutadas no espaço doméstico e público; interessam-lhe os contos populares e o imaginário das fábulas de Esopo, La Fontaine, Hans Christian Andersen e Lewis Carroll; cativam-na as potencialidades narrativas da banda desenhada; explora os universos trágicos das grandes óperas; atraem-na os romances literários.

 

Girl with pig and weeping dog, 1984

Girl with pig and weeping dog, 1984

 

A série de pinturas “The Vivian Girls”, em que se integra The Vivian Girls on the Farm (1984- 1985), constitui um exemplo das relações que a artista estabelece com referentes culturais múltiplos e complexos. O ponto de partida é a monumental obra do autodidata norte-americano Henry Darger (1892-1973), The Story of the Vivian Girls, in What is known as the Realms of the Unreal, of the Glandeco-Angelinian War Storm, Caused by the Child Slave Rebellion, que conta a história das sete filhas do fictício imperador Robert Vivian, no contexto de uma guerra entre uma nação cristã e uma nação ateia. Porém, ao contrário das delicadas ilustrações originalmente concebidas pelo autor, as composições criadas por Paula Rego não são ilustrativas ou descritivas: o seu objetivo era captar a natureza psicológica destas perturbadoras heroínas, simultaneamente vítimas, transgressoras e agressoras.

 

The Vivian Girls on the Farm,

The Vivian Girls on the Farm (1984- 1985)


A partir de meados da década de 1980, as composições de Paula Rego assumem uma nova concentração e densidade narrativa. Ao invés da dispersão, valoriza-se agora a unidade, alcançada através de uma renovada abordagem à construção do espaço tridimensional e perspético, e à representação mais naturalista do corpo humano. Esta mudança no seu trabalho encontra-se patente na série “Menina e Cão”, da qual são agora expostas as pinturas Sem título (1986) e Girl lifting her skirt to a dog (1986), obras em que as figuras ganham volume e as massas corporais adensam-se, através de modelações de tons e sombreados profundos. Em termos narrativos, mantém-se o interesse da pintora pelo caráter paradoxal e ambíguo das personagens e suas ações: símbolo de fidelidade e obediência, o cão é um ser dominável, característica a que se associa frequentemente o papel e a imagem das mulheres. Porém, este animal – tal como o ser humano – não deixa de responder aos seus impulsos mais primários. Ao retratar a ligação de uma menina com o seu cão, Paula Rego explora as tensas relações de poder estabelecidas, nas quais coexistem amor e raiva, desejo e repulsa, dedicação e ressentimento, pudor e perversão. A abordagem a estes temas verifica-se igualmente nas pinturas On the Balcony, História II e História III (todas de 1986), habitadas por personagens humanas e animais colocadas em estranhas situações, e através das quais é abordado um vasto leque de emoções e interrelações. Este território de metáforas evoca mais uma vez o universo das fábulas, narrativas fantásticas a que é atribuído um caráter instrutivo e moralizante (e, por vezes, subversivo), e que nem sempre têm um final feliz.

 

On the Balcony, 1986

On the Balcony, 1986

 

A década de 1990 é marcada pela exploração do pastel e o recurso a modelos vivos, que introduzem na obra de Paula Rego um imediatismo do gesto e uma nova expressividade plástica. No seu elenco de personagens, os protagonistas são agora quase sempre humanos, principalmente mulheres, representadas em ambientes domésticos, isoladas ou em grupo, dominadoras, virtuosas, subjugadas, estereotipadas, sexualizadas, ora cruéis, ora misericordiosas e inundadas pela compaixão. Em Watcher (1994) uma mulher sobre uma bacia debruça-se sobre uma varanda, com um triciclo – objeto da infância da própria artista – a seus pés. A posição da figura, de costas para o espetador, e a paisagem e o horizonte que não se veem, salientam o caráter contemplativo e misterioso desta pintura. Em A Cinta (1995), é evidenciada a submissão da mulher às convenções sociais da feminilidade, patente na expressão de desconforto da figura no momento de vestir uma cinta. Tal como nestas obras, no desenho O vestido cor de salmão (2001) Paula Rego aborda a mulher e o seu papel na sua esfera mais íntima; retomado noutros trabalhos gráficos, este tema remete para uma história de decadência: “o vestido cor de salmão feito em pedaços que serve para vestir uma boneca e depois outra mais pequena que cai a um poço” (Rego, 2001).

 

A Cinta, 1995

A Cinta (1995)

 

A orientação figurativa e dramática do trabalho de Paula Rego encontra-se sintetizada no políptico Possessão I-VII (2004), composto por sete pinturas de uma mulher a contorcer-se num divã. A sucessão de imagens deste corpo feminino, deitado, agitado, colocado em diversas posições, cria uma narrativa sem tempo e sem espaço, situada algures entre o erótico, a sessão de psicanálise e o exorcismo. Não é revelado o motivo do perturbador comportamento da personagem, e a sequência não permite saber o que sucedeu ou sucederá – as interpretações ficam a cargo de cada espetador.

 

Para além da pintura e do desenho, a gravura foi um meio muito praticado por Paula Rego. Um dos seus primeiros trabalhos significativos nesta área é o conjunto de gravuras em torno do tema “Menina e cão”, já abordado na pintura. Estas obras, executadas em 1987, destacam-se ora por uma aproximação mais terna e comovente ao referente (Menina sentada num cão), ora pelas suas qualidades humorísticas (Menina com homem pequeno e cão), não abandonando contudo a representação de uma tensão erótica latente, particularmente observável em Quatro meninas a brincar com o cão e Menina com a mãe e um cão. Ainda relacionadas com esta série, são apresentadas nesta exposição as obras Histórias de embalar, cena de violência em que o cão ataca um homem, sob as ordens da menina; e Viajantes, captação do momento de repouso de um grupo de caprichosas raparigas que vão em peregrinação a Santiago de Compostela, numa imagem onírica que evoca o sagrado e o profano.

 

Viajantes, 1987

Viajantes, 1987

 

Também no campo da gravura Paula Rego explorou o universo dos contos infantis. Em Children and their stories (1989) um grupo de crianças dançam de mãos dadas, numa roda oval; em primeiro plano surge uma miscelânea de personagems retiradas de lenga-lengas e histórias célebres, incluindo Alice no País das Maravilhas, Tintin, o Gato das Botas e Pinóquio.

 

Children and their stories, 1989

Children and their stories (1989)

 

Sediado no cruzamento de memórias pessoais com múltiplas referências da tradição pictórica e literária internacionais, o trabalho de Paula Rego caracteriza-se por uma obsessiva abordagem aos aspetos mais sombrios, profundos e ambíguos das relações humanas e das articulações entre o indivíduo e o coletivo. Seja em composições mais extravagantes e repletas de humor e ironia, ou em narrativas pictóricas mais densas e cuidadosamente cenografadas, a pintora explora desassombradamente temas como o poder e a obediência, a dor física e psicológica, a vergonha e o orgulho, a violência, a solidão e a sociabilidade.

 

Curadoria: Marta Almeida

 

 

 

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